Monday, November 30, 2009

Caiu outra praça forte da parvalhização



Sabia- se há muito que Las Vegas era a capital do dinheiro novo e da idiotia multimilionária. Ali servem-se hamburger's acompanhados de french fries, regados com Bordeaux, a 6000 dólares; ali há hotéis onde a pernoita chega aos 40.000 e o pequeno-almoço de corn flakes se sorve com champanhe. Ali vão tolos de todo o mundo beber o Ménage a Trois, cocktail que orça os 3.000 dólares por copo, passear-se nas limousines de oito rodas a 2.000 dólares por hora, comer o caviar Beluga a 5.000 dólares o frasco ou aspergir-se com o Kona Nigari, água retirada das profundezas do oceano. É um verdadeiro mostruário, exaustivo e grandioso, das infinitas possibilidades que o ser humano atinge após porfiado esforço para se rebaixar. Las Vegas foi o ícone - como está no moda o palavrão - da "cultura popular", do hórrido, do sem-gosto, do reles que não consegue atingir os calcanhares do Kitsch.
Há cerca de uma dúzia de anos, o Dubai começou a ser falado com um fascínio digno de suspeita, pois os seus entusiastas eram, sem tirar, a gentuça que povoa os programas da CNBC, do Bloomberg e da CNN, com a sua gritante alarvidade, cupidez pelo negócio e desbaratamento da inteligência. Em 1900, eram 10.000 pessoas vivendo em tendas esburacadas, alimentando-se de tâmaras e uns peixes que davam à costa. Em 2005, eram mais de um milhão entregando-se a prodigiosas actividades ciclópicas de construção, a especulação bolsista, indústria de entretenimento e ao ocioso malbaratamento dos recursos petrolíferos. Ali chegavam milhões de turistas, não para a aventura do deserto e das praias, mas para os mais caros restaurantes, as mais caras lojas, os mais sofisticados hotéis do mundo. Ali tudo atingiu o gigantismo de que o mentecaptismo se serve para compensar a criatividade: o Palm Jumeirah, o Wadi Waterpark, uma Disneylândia arabizada, o Burj Dubai, a mais alta torre do mundo, o Hydropolis, o primeiro hotel subaquático do mundo, The World, uma constelação de ilhas artificiais cujo conjunto realiza a orbe terrestre, o Snow Park, o maior complexo mundial de pistas de ski em gelo. Uma fantasia sem graça, o símbolo maior da parvalhização e do sonho de uma aldeia global povoada de ricos patetas e patetas ricos.
Era, até dia 27 de Novembro, a "cidade global". Tudo se desmoronou numa noite. Outras seguir-lhe-ão as pisadas. Estou para ver como reagirão os business first à derrocada de outras Mecas e Jerusaléns da religião do dinheiro. E quando Singapura, o mais civilizado reduto da parvalhização, seguir o exemplo do Dubai ?

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