Já faz parte do anedotário das campanhas políticas americanas a iniciativa que James Carville teve, enquanto gestor da primeira campanha presidencial de Bill Clinton, de colar um cartaz na sala principal de reuniões do staff onde se lia em letras enormes "It’s the Economy, Stupid! "
A ideia subjacente era a de que, por muito que outras matérias tenham interesse para os eleitores (americanos, mas aposto que não só), a economia é o motor essencial para a avaliação do desempenho de um governo. E por “Economia” entende-se não apenas as estatísticas intangíveis, a política financeira, a globalização e etc, mas principalmente os níveis de desemprego e de rendimento disponível no bolso dos consumidores.
Por isso mesmo, e por muito que Clinton se sentisse atraído pelas questões educativas e outras causas sociais, a verdade é que a sua governação se preocupou essencialmente em erguer a economia americana da crise em que mergulhara à saída dos anos 80 e durante a presidência de Bush Sr.
Entre nós esta lição não foi aprendida e parece entender-se “Economia” como quase tudo aquilo que não tem o impacto directo na vida quotidiana das pessoas: endeusa-se a luta contra o défice, propagandeias-se a necessidade de inovação, anunciam-se PIN’s, camapnhas de marketing, etc, etc, mas se excluirmos meia dúzia de nichos de mercado e a Autoeuropa, a Economia afundou-se por completo, aniquilados que foram muitos dos sectores tradicionais e ausentes que estão sectores de ponta que puxem pelo resto da actividade económica.
O resultado está à vista: o empobrecimento constante do país, com especial destaque para a maioria da população, cujo poder de compra está em quebra acentuada em relação à média europeia, enquanto as perspectivas de crescimento, de acordo com as previsões do The Economist, são pouco melhores do que medíocres, apontando para a continuação da nossa descolagem do pelotão intermédio da UE, pois começamos a ser ultrapassados pela nova cauda da Europa comunitária.
Os argumentos tradicionais de sermos um pequeno país, com poucas matérias-primas e baixo nível de qualificação são lindíssimas, mas esquecem que países pequenos, sem especiais riquezas, como a Irlanda ou o Luxemburgo estão na frente do pelotão e que os micro-países bálticos estão a caminho de nos passar a perna, coisa que até Chipre e Malta já conseguiram.É curioso que os nossos emigrantes , com baixas qualificações conseguem ter bons rendimentos e boa produtividade em países como a Suíça e o Luxemburgo .
E eu que não sou um fanático da Economia à frente de tudo, continuo a achar que o fracasso de Portugal se deve à incapacidade de desenvolver economicamente o país e que enquanto assim for é impossível esperarmos que o resto possa ter um desenvolvimento sustentado.
Porque o aumento do desemprego e a quebra dos rendimentos tem, por exemplo na área da Educação, efeitos devastadores na instabilidade financeira e emocional das famílias e na pressão para a inserção precoce dos jovens em empregos precários mas que, no curto prazo, se revelam essenciais e até uma escolha racional do ponto de vista da gestão dos orçamentos familiares.
E quando temos uma mão de obra qualificada desempregada na ordem dos 20%, ainda afirmam que o nosso défice é de qualificações? Mas de que qualificações falam? De cidadãos certificados como «profissionais da prática de futebol»?
Wednesday, December 19, 2007
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