Friday, June 24, 2011

O exemplo tem de vir de cima

Uma das coisas que mais me fazia confusão no anterior consulado de Pinto de Sousa é que cada medida que se pudesse tomar para cortar na despesa do Estado era invariavelmente considerada como "simbólica", não só pelos próprios governantes, como pela propaganda oficial, que acabava por ser assimilada pelas mentes mais insuspeitas. Era uma medida "simbólica" - ou "demagógica" e "populista" - mudar as viagens de Estado da classe executiva para a económica - e por isso lá viajavam todos de executiva, do primeiro-ministro ao presidente da Junta. Isto se não alugassem mesmo um charter para poderem levar famílias, amigos e até a comunicação social atrás. Era uma iniciativa "simbólica" acabar com os governadores civis e, por isso, eles lá continuavam sentados. Era "simbólico" cortar na aquisição de carros e por isso todos eles andavam em altas cilindradas. Acabar com as despesas em propaganda, era puro simbolismo, como era "simbólico" reduzir o número de institutos e fundações. De simbolismo em simbolismo, foram enterrando Portugal. Sabendo que cortar no "simbólico" não chega, espero que o novo governo não se acanhe de cortar no "simbólico" apenas porque serve de exemplo, mas que estes cortes sejam o anúncio de uma verdadeira mudança na forma como o Estado intervém na economia e na sociedade em Portugal.

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