Tuesday, July 17, 2012

Política e moralidade

Um estrangeiro que chegasse hoje a Portugal teria dificuldade em perceber porque é que os portugueses andam todos indignados a pedir a demissão do ministro Relvas. Por entre tanta indignação e rasgar de vestes, é difícil encontrar quem tente  justificar porque é que nestas circunstâncias um ministro se deve demitir. Uma das poucas excepções é este texto de Carlos Fiolhais que a dado momento diz o seguinte:
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Assim como não é nenhum crime requerer, pagando, equivalências de cadeiras universitárias ao abrigo da Declaração de Bolonha. O problema não é, porém, de legalidade, mas sim de moralidade. Com que cara pode o governo pedir exigência no ensino se, dentro dele, se encontram casos de falta de exigência?
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Esta passagem chamou-me a atenção porque é uma tentativa de estabelecer uma ligação entre política e moralidade que tem tudo para correr mal. Tem tudo para correr mal porque a sociedade portuguesa não conseguiria nunca viver sob um nível tão alto de exigência e rapidamente assistiriamos a situações iguais que não teriam o mesmo tratamento. Em vez que promover uma sociedade virtuosa, este ênfase na moralidade e na autoridade moral dos políticos tende inevitavelmente a promover a hipocrisia.
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A sociedade portuguesa tem experiência suficiente em casos semelhantes para não haver muitas ilusões nesta matéria. Para quem não se lembra, o caso da licenciatura de  Sócrates Pinto de Sousa é de 2007. Este caso não suscitou pedidos de demissão do Primeiro-Ministro nem impediu a vitória eleitoral de Pinto de Sousa em 2009. Isto é, eleitores que já sabiam dos problemas da licenciatura de Pinto de Sousa votaram nele à mesma (aposto que muitos deles agora pedem a demissão de Relvas). Este é o padrão da política portuguesa, goste-se ou não dele, e foi de certa forma legitimado pela prática e pelas urnas. Lembre-se ainda que as tentativas por parte de Marques Mendes ou Manuela Ferreira Leite de moralizar a política acabaram por  ser rapidamente anuladas por casos de hipocrisia (Isabel Damasceno, António Preto) e por culminar em derrotas políticas e eleitorais.

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