Trinta e seis anos após o seu nascimento, já ia sendo tempo de a nossa Democracia, ainda que provinciana, dar mostras de plena maturidade. E tenho a certeza que tal já teria acontecido, se ela não escolhesse tão mal os seus companheiros: refiro-me aos políticos, como é evidente. Tal como os amantes marialvas, eles usam-na para os seus interesses e apetites pessoais; eles servem-se dela e não a servem; eles não a amam e até nem se importam de a prostituir. O povo, esse…
José Sócrates levou o Partido Socialista a duas vitórias consecutivas de uma forma que eu — analfabeto funcional em questões de política politiqueira — considero ilegítima: na primeira eleição, prometeu mundos e cavou fundos; na segunda, ocultou os fundos que tinha cavado na primeira. E a Democracia — a nossa trintoninha —, foi na onda, e continua a ir, crente nas descaradas desculpas do seu amante incorrigível. E a união de facto vai-se mantendo — apesar dos cada vez mais frequentes episódios de violência doméstica — até que um dia ela caia da cama e acorde de vez.
Não sei como é que um político se sente legitimado para governar, quando é eleito para fazer A e depois descobre — ou faz que descobre — que, afinal, tem de fazer o contrário de A: “Desculpa lá, minha querida, mas o enxoval do teu papá não é o que parecia! Vais ter de vender os anéis e as gargantilhas e apanhar de vez em quando!”. O voto, afinal, serviu para quê?
Não sei como é que um político se sente legitimado para governar, quando é eleito na base de uma dívida X e depois — ele mesmo, himself — descobre (ou faz que descobre) que a mesma é 3X: “Desculpa lá estragar-te as núpcias, minha querida, mas, afinal, acabo de descobrir uma data de dívidas que nem por sombras imaginava ter!”. O voto, afinal, serve para quê?
Acredito que, quando a nossa jovem Democracia entrar nos sessenta — sem a cegueira que a libido provoca —, talvez repudie com vigor este tipo de tipos. Quando a nossa democracia (com minúscula, porque o sentido é denotativo) for realmente madura, só abrirá as portas a quem lhe apresentar — em vez de promessas vagas e promessas de pequenas medidas amanuenses, ainda assim com possibilidades semânticas quase literárias —, verdadeiros projectos de desenvolvimento do país, nos quais seja bem evidente o que se pretende fazer no interior para que ele seja repovoado e Portugal possa crescer inteiro e como uma família unida, na qual reine a igualdade, que é, afinal, o verdadeiro amor da sua vida.
Luís Costa
Retirado de
Trintona traída no Blogue DaNação
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