Saturday, October 13, 2012

Farinha do mesmo saco

 Tecnoforma, empresa de que Passos Coelho foi consultor e depois gestor, conseguiu fazer aprovar na Comissão de Coordenação Regional do Centro (CCDRC), em 2004, um projecto financiado pelo programa Foral para formar centenas de funcionários municipais para funções em aeródromos daquela região que não existiam e nada previa que viessem a existir. Nas restantes quatro regiões do país a empresa apresentou projectos com o mesmo objectivo, mas foram todos rejeitados por não cumprirem os requisitos legais. As cinco candidaturas tinham como justificação principal as acrescidas exigências de segurança resultantes dos ataques às torres gémeas de Setembro de 2001.

O programa Foral era tutelado por Miguel Relvas, então secretário de Estado da Administração Local, e na região Centro o gestor do programa Foral (e presidente da CCDRC) era o antigo deputado do PSD Paulo Pereira Coelho, que foi contemporâneo de Passos Coelho e de Relvas na direcção da Juventude Social Democrata (ver PÚBLICO de segunda-feira). 


Estes factos são de 2004. Como se escreve no artigo do Público em papel, "O valor final pago pelo programa Foral por conta desta candidatura foi de cerca de 312 mil euros, perto de um quarto dos 1,2 milhões aprovados em 2004."

Para explicar estes factos essenciais, o Público deu à estampa sete páginas, com a assinatura do melhor repórter de investigação que temos em Portugal, José António Cerejo.

Criminalmente,  nada disto interessa. Os eventuais crimes- que crimes, afinal?- de desvio de subsídio ou de tráfico de influências, não têm "pernas para andar" como se costuma dizer.
Então o que interessará verdadeiramente? O retrato de uma classe política que temos em Portugal e que tomou o poder há vários anos, atravessando o chamado "arco da governação", com destaque para o PS e PSD, com o CDS a pedir meças ( no caso dos submarinos e sobreiros).
Estas coisas começaram a acontecer logo na altura da nossa adesão à CEE e à chegada dos primeiros fundos, para a formação profissional. Até a UGT ( Torres Couto) e outros aproveitaram a onda, desviando subsídios. Na altura, Cavaco mandava no Governo e poderia ter estancado a sangria moral. Não estancou e até se abespinhou com os burocratas da Justiça que queriam moralizar as negociatas. Foi nessa altura que os auditores dos ministérios começaram a ser malvistos. Depois foram substituídos pela parecerística dos Sérvulos e Júdices mais os Galvões Teles e Caldas, Jardins e associados em comandita.
Os casos do Fundo Social Europeu, com os processos que prescreveram e os desvios que se verificaram e nunca foram apurados foram a prova de que somos um país propenso à corrupção. Tanto que até foi preciso instituir uma Alta Autoridade contra a mesma, onde um certo Pinto Monteiro fez uma perninha.
Não adiantou muito porque Pinto Monteiro e outros eram "do cível" e a Alta Autoridade era só para inglês,perdão, europeu, ver.  
  
Neste aspecto, Relvas, Sócrates Pinto de Sousa, Passos Coelho, Marques Mendes, Jorge Coelho, Portas, Ângelo Correia, para só citar alguns, são farinha do mesmo saco.

A questão que se coloca é saber se temos outros sacos onde ir buscar farinha, mais limpa e mais consentânea com as nossas necessidades de alimentação democrática.
Andarmos a engordar esta gente é que não devia ser admitido e a corrupção como fenómeno criminal anda associada a isto, mesmo que não pareça ou que não se manifeste criminalmente.


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