Tuesday, January 02, 2007
O Naufrágio e a Protecção Civil
Embora um acontecimento que ocorre durante algum tempo seja melhor registado num vídeo do que numa fotografia, muitas vezes basta uma foto para dar uma ideia suficientemente clara, como se vê em reportagens de jornais e revistas. Fenómeno semelhante se verifica com os resumos que, quando bem elaborados, dispensam a leitura de documentos volumosos. A história aprende-se através de momentos isolados mas representativos da evolução dos acontecimentos mais decisivos.Ao terminar do ano de 2006, a fotografia que fica do que é Portugal neste mudar de ano, aquilo que os demonstra o estado em que isto está, é-nos evidenciado pelo afogamento de seis pescadores que não conseguiram sobreviver a um naufrágio, porque o helicóptero de salvamento chegou apenas duas horas mais tarde, tendo salvado só o sétimo náufrago. E isto passou-se a 50 metros da areia da praia e o barco afundado tinha lançado o alarme pelo GPS, estando, portanto rigorosamente localizado e identificado.A população pergunta, com toda a pertinência, o que se passa com a Protecção Civil? Que andam esses indivíduos a fazer, ornamentados com vistosos fatos e medalhas? Para que se gastam milhões de euros com aeronaves se estas não são utilizadas quando necessário por não estarem em estado de prontidão? Como está organizado o sistema de socorro? Não faltam motivos para indignação.Para uma missão de protecção civil, como em muitas outras que se revestem de complexidade e de vários intervenientes, não se deve começar por adquirir materiais, nem, muito menos, por se anunciar um vultoso investimento, sem antes se fazerem os necessários estudos prévios. Deve começar-se por definir a finalidade deste Serviço Público, o que dele se petende, havendo depois que organizar, definir as dependências, a forma de interagir, os canais de chefia e os de informação, planear, com inteligência, razoabilidade, sentido empresarial, etc. Só depois de haver manuais esboçados com a organização estática dos organigramas e a dinâmica de funcionamento, operacional, é que começam a delimitar-se as necessidades de materiais, que devem ser adquiridos segundo critérios de necessidade e de economia, tendo em conta a sua utilização, os operadores e a conjugação com outros já existentes, e criar sistemas de utilização adequados às prováveis necessidades de intervenção.Esta metodologia não foi seguida, do que resulta o mau aproveitamento de recursos humanos e materiais e a nulidade do sistema, como agora aconteceu com tantas perdas de vidas.Somos um País do terceiro ou quarto mundo, com incapazes por todo o lado, mas com prosápias de grandes gastadores. Todos os anos por volta de Fevereiro, o MAI aparece nas TV a dizer que nesse ano os fogos florestais vão ser atacados com eficiência porque já foram investidos «éne» milhões de euros. Mas o resultado vê-se no Verão, traduzindo o inconveniente da falta de organização e de método atrás referida. E a Protecção Civil não deve ser orientada exclusivamente para os fogos florestais de verão.Isto mostra o estado em que se encontra o País e que denuncia que os políticos não têm preparação adequada para as funções que devem desempenhar. O seu recrutamento é feito entre jovens das suas relações de amizade que só dizem o que o chefe gosta de ouvir e que se rodeiam de responsáveis pelos serviços com a mesma ética de «yesmen». Depois, o País fica mal servido, embora se gastem milhões sem o proveito correspondente.Consta que, enquanto os náufragos careciam de socorro, havia na Serra da Estrela, em apoio preventivo de turistas, um aparato com centenas de pessoas e veículos da Protecção Civil, pomposamente enquadrados
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