Saturday, March 21, 2009

Ele aparece em todo o lado



«A propaganda atingiu agora um novo e patético momento, com a tentativa de comparar Sócrates ao Cavaco Silva dos governos de maioria de 87-95. O argumento compara-os em autoritarismo, carisma e reformas, quando na verdade Sócrates é autoritário e Cavaco tinha autoridade; Cavaco tinha carisma, Sócrates tem powerpoint; Cavaco fez reformas, Sócrates não conseguiu. A comparação surge como tábua de salvação propagandística de quem já não tem a que se agarrar: até já usam o mito adversário para inventar um impossível mito Sócrates. Embora ainda não se note muito, tudo isto coincide com a chegada do desespero: as "reformas" falharam, os "grandes projectos" afundam-se, o Magalhães gralha-se, o desemprego cresce, as empresas fecham, os grupos profissionais não querem saber do Governo para nada, as mentiras e os actos controversos vêm à tona, a emigração aumenta, o crime idem, as promessas e propostas repetem-se, a governação nada traz de novo; o Governo governa à vista, para chegar de pé ao fim do dia; o Governo está esgotado, acabado. A violência contra os media aumentará com o desespero, como se vê pelo comunicado de ontem da ERC. A "campanha negra" é poeira para os olhos, porque as notícias da imprensa e TV basearam-se em elementos factuais, declarações e documentos. Nenhum facto foi desmentido. Ao contrário do que diz o PS-Governo, não há notícias a mais, o que há são demasiados assuntos, demasiados factos. Baseiam-se em informações factuais e credíveis. O nome de Sócrates aparece por todo o lado. É o caso da "licenciatura". É o caso dos "projectos arquitectónicos". É o caso Freeport. É o caso de Setúbal e dos sobreiros. É o caso da Cova da Beira. É o caso da não entrega da declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional. Todos estes casos envolvem pelo menos o nome do primeiro-ministro de Portugal, e isso está a tornar-se um grave problema para o país, para a governação e, até, para a governabilidade. Há presunção de inocência, sim, o que não colide com a liberdade de informar, investigar e opinar. E também há a presunção da liberdade de se achar que as notícias são importantes para se conhecer o primeiro-ministro e as suas acções e que os factos relatados cheiram muito mal em si e não por serem relatados. Sócrates e o seu círculo fechado de poder, semelhante aos dos partidos únicos, armaram, essa sim, uma "campanha negra" contra a liberdade de informar correctamente com factos, declarações e documentos sobre os casos em que o nome de Sócrates aparece de facto envolvido. É preciso dizer basta às "campanhas negras" de Sócrates e do seu círculo de poder contra a verdade e as notícias verdadeiras.»

Eduardo Cintra Torres, Público

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