Thursday, January 03, 2008

Satisfação da classe docente

Excerto da conclusão de uma obra que apresenta a introdução teórica da tese de doutoramento de Graça M. Batista Seco sobre A Satisfação dos Docentes (teorias, modelos e evidências):
Neste sentido, a oportunidade de desenvolver e utilizar novas competências, de realizar tarefas diversificadas, de participar na tomada de decisões ligadas ao trabalho docente (incluindo o desenvolvimento curricular), de estabelecer relações gratificantes com os alunos e de prosseguir o seu desenvolvimento profissional, através de programas de formação úteis e adequados e de uma verdadeira avaliação formativa, parecem ser aspectos intrínsecos ao trabalho que podem conduzir a um aumento da satisfação do professor. Enriquecer e desenvolver as dimensões intrínsecas à tarefa docente parece constituir-se, então, como uma das estratégias, com implicações positivas, para a percepção de bem-estar profissional dos professores (ou melhor, de alguns professores - os que gostam de tarefas enriquecidas!). Capacitar os docentes para o exercício de um job-enrichment pode constituir o principal desafio dos programas de formação e desenvolvimento profissional, que devem procurar, então, focalizar a sua atenção nas condições psicológicas geradoras de satisfação com o trabalho, num esforço de articulação equilibrada entre as múltiplas vertentes do ‘crescimento’ profissional e a dimensão pessoal do professor.
Todavia, os sistemas de incentivos devem incluir, também, consequências extrínsecas que sejam valorizadas e percepcionadas como equitativas pelos docentes, as quais passam por uma revalorização salarial e por uma melhoria das condições materiais de trabalho, do estatuto e da imagem social da profissão. (pp. 160-161)
Para quem tinha especiais dúvidas sobre a razão da insatisfação da generalidade dos docentes, acho que esta passagem explica na perfeição tudo o que não foi feito nos últimos anos: a profissão cada vez passou a ser encarada de forma unidimensional pela tutela, que sobrecarrega os docentes em quantidade de trabalho não se preocupando com a qualidade; a formação contínua empobreceu imenso e afunilou-se para duas ou três áreas ao mesmo tempo que se reduziram as hipóteses de enriquecimento a partir da participação em iniciativas exteriores às promovidas pelo ME. Ou seja tivemos foi um job-impoverishment a todos os níveis, do simbólico ao material.

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