A percepção é comum à generalidade dos docentes e não apenas: a obsessão do Governo e do ME com o controle dos custos na Educação, que sacrificou em primeiro lugar os professores, e a tentação de fabricar Sucesso a todo o custo tem, num segundo momento, como principais vítimas aqueles que deveriam estar em primeiro lugar nas suas preocupações (e não apenas na sua verborreia) os quais são os alunos.
Porque poucas dúvidas subsistirão neste momento que para este Governo e a tríade do ME o que interessam são os números para exibir nas estatísticas oficiais, sejam elas as do défice ou do sucesso escolar.
Em boa verdade o ME não está preocupado com a qualidade do ensino ou das aprendizagens, mas apenas com a construção de resultados, nem que para essa construção se recorram aos truques mais arbitrários, desde o condicionamento do trabalho dos professores à pura e simples manipulação das estatísticas em torno do abandono escolar (a revisão do Estatuto do Aluno mais não é que um caminho para reduzir administrativamente o abandono, mesmo quando ele existe) ou das certificações passadas à la minute nessa grande fábrica de Sucesso que é o programa Novas Oportunidades.
Mas o que é mais grave é a forma como a acção ministerial, que muitos acham ser resultante de um plano pacientemente executado e eu insisto em ler como resultado de incompetência técnica ao serviço de objectivos errados, está a perturbar o funcionamento normal das escolas e a prejudicar gravemente o trabalho pedagógico de professores e alunos.
A catadupa legislativa, com alterações constantes de regras a meio do ano, só pode(m) resultar em efeitos fortemente prejudiciais para a qualidade do ensino e não para o seu reforço. A sobrecarga burocrática causada pelo processo (pesado, formalista, papelento) de avaliação do desempenho dos professores, com as suas inépcias e irregularidades recentes, a tentativa de mudança da orgânica das escolas a meio de um ano lectivo, a alteração das regras quanto à assiduidade dos alunos ou mesmo do enquadramento das NEE, são tudo factores de grave disrupção na vida das escolas que, num segundo momento, podem ter como efeito o desânimo dos docentes e a opção de muitos pela saída mais fácil: a de aceder à fabricação de scuesso.
Querem que a minha avaliação dependa da dos meus alunos? Tudo bem, eu dou positiva e não me aborreço mais com isso.
Querem que as faltas não contem para a retenção dos alunos? Tudo bem, passemos toda a gente e ficam todos contentes, mesmo que seja tudo uma fraude.
Querem colocar as câmaras e as famílias a controlarem o trabalhos dos docentes? Tudo bem, nós garantimos o sucesso para nos deixarem em paz.
Esta é obviamente a via errada, mas é uma tentação com que o ME acena, sendo que a não aceitação destas regras a bem, pode acabar com pressões a mal.
Os alunos ganham alguma coisa com isso? Obviamente que não!
As suas aprendizagens passam a ser melhores? Obviamente que não!
Há condições para os professores darem o melhor de si aos alunos neste contexto? Obviamente que não.
Para o ME os fins estatísticos justificam quaisquer meios. E podem ter todos a certeza: os alunos são os que mais perderão, porque o Sucesso não se constrói desta forma.
O verdadeiro Sucesso é outra coisa.
Artigo retirado do blog " A educação do meu umbigo
Sunday, January 27, 2008
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