«Alguém sabe o que fazem a maioria dos ministros face aos problemas dos seus sectores? Sabe-se do ministro do Trabalho, justiça lhe seja feita, e mais um ou dois ministros. Mas a Educação está bloqueada, o Ambiente não existe, a Cultura ninguém se lembraria que é um ministério, se não fosse Manuel Maria Carrilho lembrar que o devia ser. O ministro da Administração Interna vai chegar ao termo das suas funções sem perceber que não é ministro da Justiça, e sem perceber o significado da palavra segurança. O ministro da Justiça nem sequer preside a um ajuntamento de corporações em guerra umas com as outras, porque nem o lugar de presidente da mesa lhe deram. O Ministro das Finanças, um dos pilares fundamentais deste Governo e que podia apresentar obra, assiste agora à demolição quotidiana do que tinha conseguido com pretexto na crise, e, como já o admitiu, governa pelas estrelas. Há um governante que trabalha muito. O ministro dos Assuntos Parlamentares, que tutela a televisão, a rádio e a propaganda. No seu ministério e no gabinete do primeiro-ministro, trabalha-se 24 horas por dia e em todos os azimutes. Seria, aliás, interessante saber se um blogue anónimo "corporativo" feito por assessores usando arquivos governamentais e que tem o objectivo de popularizar os temas da propaganda, fazer contrapropaganda e desinformação bastante profissionalizada, se bem que sem grande sucesso, depende desse ministro ou do gabinete do primeiro-ministro. Aí trabalha-se em tempo quase real, mas governar só residualmente. No Governo está tudo em estado de estupor. Estudar os assuntos, identificar e resolver os problemas, implementar um programa, fazer qualquer coisinha por um país que está numa profunda, muito profunda crise, não se usa nem se pratica. A culpa salvífica é da "crise", que é tratada como uma desculpa útil e pouco mais. (...) Poucas coisas revelam mais esta ausência de governação no meio de uma crise gravíssima do que um primeiro-ministro que mais uma vez foi à Central Fotovoltaica da Amareleja, a pretexto de uma visita de estudantes estrangeiros numa iniciativa paga pelo próprio Governo (o ministro da Economia considerou má educação querer saber quanto custou), e que funcionaram como casting para a sua aparição diária na televisão. Como é óbvio, falou em português para estudantes que não percebem a língua, mesmo sendo suposto haver tradução. Mas não era para eles que falava, era para nós. Era o "momento Chávez" de dia. Aquilo a que hoje se resume a governação.»
José Pacheco Pereira, Público
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment