A partir de Setembro, teremos 150 mil professores a fazer estágio. Quem se lembra do estágios - eu fiz a profissionalização em serviço, em 1983 - sabe que os alunos são extremamente sensíveis à situação do professor que está a ser avaliado por outro professor. Essa situação fragiliza o professor aos olhos dos alunos e dos pais. As pressões que uns e outros irão fazer sobre os professores que estão a ser avaliados serão enormes e de consequências incalculáveis. No limite, o ensino vai tornar-se um enorme mentira com os professores a serem pressionados para darem as notas que os pais esperam e exigem para os seus filhos. Esta questão assumirá proporções alarmantes no ensino secundário, com particular relevância nas disciplinas que contam como provas de ingresso ao ensino superior. Na Matemática, Física, Química e Biologia, disciplinas que entram como provas de ingresso para Medicina, Ciências Farmacêuticas, Enfermagem e Tecnologias da Saúde, as pressões dos pais para as notas elevadas serão tantas que os professores não terão outro remédio senão embarcarem no processo de construção da grande mentira, indo aliás ao encontro daquilo que o ME tem feito nos últimos anos. Os problemas de indisciplina vão inevitavelmente aumentar. Os alunos sabem tudo, têm radares. Distinguem de imediato o que cada professor anda a fazer. Se é do grupo "avaliado" ou "avaliador". Nas escolas e nas turmas onde ocorrem, com regularidade, problemas de indisciplina, bullying e violência, assistiremos a dois fenómenos: o aumento real dessas situações e a redução do número de casos participados. Qual é o professor que na situação de estar a ser avaliado quer participar um caso de violência ou de indisciplina?
Os 150 mil professores em situação de estágio, a partir de Setembro, vão estar numa situação bem pior do que aquela que viveram quando eram estagiários: nessa altura, aprenderam alguma coisa; agora, não vão aprender nada e serão sujeitos a humilhações e a pressões que nunca antes vivenciaram. Pior ainda: a partir de Setembro e até ao final das suas carreiras, os 150 mil professores nunca deixarão de estar em estágio. Toda a futura carreira dos 150 mil docentes actuais e de todos os que vierem a ingressar na carreira sujeitá-los-á à situação de estagiários ad eternum.
Nem Maquiavel faria melhor!
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