Tuesday, August 26, 2008

Entrevista de Sisa Vieira ao JN

Siza Vieira deu uma entrevista ao jornal DN, destaco da mesma este pequeno excerto, que é uma pedra no charco e reveladora de algumas das manobras dos concursos públicos.
Por razão profissionais, assisti e acompanhei muitos com cursos públicos, embora sem provas, sempre tive a sensação, para não dizer a certeza, que muita coisa se resolvia por debaixo da mesa. Não foram poucas as vezes que propostas foram admitidas mesmo quanto tinham erros grosseiros ou os outros concorrentes provavam que os preços eram abaixo dos custos. O sistema, com o novo Código tornou praticamente impossível a investigação dos crimes de colarinho branco e nestas coisas dos concursos, ninguém tem coragem de denunciar, sob pena de não ganhar mais nenhuma “obra”.
Não é fácil ser-se arquitecto em Portugal?
O acesso ao trabalho dos mais novos é difícil e não deixa de ser triste que quando uma pessoa está cheia de energia tenha dificuldade em obtê-lo. Quando já está a necessitar de um ritmo diferente começa a aparecer trabalho, o que resulta numa distribuição muito desigual. E depois há os concursos, mas os resultados destes também acho que não têm sido especialmente bons. Quer dizer que os resultados são viciados?
Eu não lhe chamo viciados mas há uma coisa que se verifica internacionalmente: como é obrigatório fazer concurso para as obras públicas, acontece com muita frequência que os políticos de determinada cidade queiram o arquitecto X para a pôr no mapa e usem os protagonistas de qualidade para o projecto e ao mesmo tempo para o show necessário. Então, se é importante a cidade ter esse arquitecto X, mas como é obrigada a fazer um concurso, chama outros também, mas ganha o escolhido pela cidade. Isso é frequentíssimo.
Também se sente usado nesses processos de escolha por parte dos políticos? Eu agora não faço concursos. Já os fiz e fiquei desencantado porque uma coisa é que o que se apresenta - tem de ser com grande impacto visual, embora possa não corresponder a uma solução correcta - e serve para ganhar o concurso mas depois o que realmente se projecta é refeito - serviu para impressionar - e já não é nada daquilo. Neste momento não faço concursos por essa razão mas também porque não tenho dificuldade de acesso a trabalho.

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