O ME não cessa de divulgar estatísticas que mostram forte diminuição da taxa de reprovação. Um em cada quatro alunos do básico fez um plano de recuperação, em 2007/08, tendo 74% conseguido transitar de ano. Nesse ano, a taxa de transição aumentou em 9% por comparação com o ano anterior. Para quem não sabe, o plano de recuperação é um conjunto de actividades feitas na escola para apoiar os alunos que, até ao Carnaval, revelem dificuldades escolares que coloquem em risco a transição de ano. Em 2007/08, foram feitos 187 638 planos de recuperação. Os professores sabem que, em muitos casos, esses planos têm como único objectivo forçar os docentes a passarem os alunos. Há professores que elaboram mais de dez planos de recuperação em cada turma. Um professor do 3º CEB, com 5 turmas, pode ter de elaborar mais de 50 planos de recuperação. E o que vem depois também não é coisa fácil. São precisos relatórios e actas a descrever o que se fez e a justificar os fracassos. Como os professores tendem a ser cada vez mais responsabilizados pelo mau desempenho dos alunos, há cada vez mais docentes que acabam por dar, no mínimo, o nível 3 a todos, mesmo aos que revelam um domínio dos conteúdos próximo do zero absoluto. E que dizer do palavreado usado pelos professores nos planos de recuperação e nos relatórios? Todo aquele arrazoado tem de respeitar a novilíngua, o eduquês, o sociologuês e o pedagogicamente correcto. Nada daqueles conceitos corresponde à realidade mas que interessa isso? O que interessa é que os inspectores gostam de ler as pérolas do eduquês. Sem pérolas, o texto não passa e o professor corre o risco de ser considerado incompetente. Estender os planos de recuperação aos 10º, 11ºe 12º anos é alargar o pesadelo burocrático e a mentira do eduquês a todo o sistema escolar. Valia mais impor por decreto o sucesso escolar universal e completo e entregar aos alunos dois tipos de certificados: um certificado de frequência e um certificado de aproveitamento com avaliação externa. Pelo menos assim não se mentia. E os alunos que se esforçam seriam recompensados com um certificado que distinguiria o mérito. Mas isso seria pedir o impossível aos actuais inquilinos da 5 de Outubro.
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