Armando Vara tem marcas que não são fáceis de apagar: ascendeu a banqueiro, com o “rótulo” de emissário político; o seu comportamento no passado não é, para muitos accionistas, à prova de bala. Não pelo facto de terem visto algo de menor agrado, mas sim por, em 2001, na qualidade de secretário de Estado, ter sido apanhado na polémica à volta da Fundação para a Prevenção e Segurança. Uma instituição privada que criou, com recurso a fundos estatais doados quando estava no Governo de Guterres.
O Presidente da República Jorge Sampaio batalhou para que deixasse o Governo. Na sequência, demitiu-se. Em causa estavam irregularidades administrativas e não criminais, e o processo foi arquivado. Hoje, Vara voltou às páginas dos jornais. Com ou sem razão, aos olhos do grande público existe uma desconfiança antiga.
Transmontano, natural de Lagarelhos, Vara subiu os degraus do poder ao lado de José Sócrates (deputado, secretário de Estado, ministro). É desde 1987 dirigente socialista, tinha apenas o liceu e trabalhava numa agência da CGD. Chega à presidência da distrital de Bragança, tomando o pulso ao aparelho partidário. Anos depois é chamado a ocupar cargos nos Governos de António Guterres.
É próximo de Sócrates, mas também de Jorge Coelho, Edite Estrela, Laurentino Dias. Notícias não negadas têm-no dado como estando ligado à maçonaria do Grande Oriente Lusitano.
No seu percurso atribulado destaca-se o aparecimento na Ponte 25 de Abril para apoiar o buzinão de contestação ao cavaquismo. Amigo de Joaquim Oliveira, da Olivedesportos, Vara surge associado ao mundo do futebol e são conhecidas as tentativas para o levar até à liderança do seu Benfica. Em vão.
O curriculum académico é feito no princípio da década, com a licenciatura em 2005 em Relações Internacionais na Universidade Independente, a mesma onde Sócrates se diplomou. Preparava-se para assumir novos desafios.
O regresso à Caixa Geral de Depósitos para ocupar o lugar de director dá-se em 2001. A mudança de “sector” reduz-lhe a exposição mediática, resguarda-o do cansaço do escrutínio público e oferece-lhe remunerações apetitosas.
Em 2005 o PS de José Sócrates ganha as legislativas. Tem 51 anos, quando é nomeado administrador da CGD. Vara toma posse no meio de grande controvérsia: um Job para um boy?
É certo que a alta finança é um espaço de encontro entre a política e os grandes interesses económicos, porque os negócios necessitam das autorizações governamentais. Uns dizem que faz parte do “polvo” socialista, outros pensam o contrário. Mas Vara vai procurar fazer esquecer a desconfiança que se gerou à sua volta, trabalhando.
Dizem que é educado, discreto. Há quem sublinhe que a vida o ensinou a não ter tiques de vedetismo. Os colaboradores são quase unânimes ao concluir que no banco é ele quem decide: “É um profissional.” Se há quem diga “nim”, Vara diz sim ou não. E avança.
É neste contexto que em 2008 chegou à vice-presidência do BCP, por convite do socialista Santos Ferreira. A transição da CGD para o BCP deixa rasto, quando se apura terem sido dados créditos em larga escala a accionistas do BCP, para que estes entrassem na disputa pelo controlo do banco. Em troca, a CGD recebeu acções cotadas. Com a crise, o banco assumiu menos-valias de centenas de milhões de euros, o que levou o Estado a aumentar o capital. Hoje mesmo as vozes hostis do sector reconhecem a Vara que gosta de resolver os problemas, é despachado e que ganhou o respeito do sector, mesmo reconhecendo a influência do PS.
Friday, October 30, 2009
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