Friday, May 15, 2009

O alargamento da escolaridade obrigatória


O alargamento da escolaridade obrigatória é um assunto muito ventilado nestes últimos tempos, uma medida já várias vezes anunciada, aplaudida por uns e criticada por outros, pois não deve ser tomada sem que haja uma reestruturação do sistema. Os alunos não podem ser obrigados a frequentar a escola sem que esta ofereça as devidas condições, caso contrário, funciona como uma medida contraproducente.
Não chega remodelar edifícios, embora isso seja positivo, é necessário verificar tudo o que se passa ao longo dos anos na actual escolaridade obrigatória. Acham que estão criadas as condições para avançar com mais três anos de escolaridade? Todos os alunos, no final do nono ano, saem com as competências básicas de acordo com o mínimo exigido para este nível? Sabem todos, pelo menos, ler e escrever correctamente ou o objectivo é que o número de diplomados cresça sem que haja o mínimo de exigência? O que faz um aluno completamente contrariado numa escola? Não seria mais benévolo reestruturar o ensino no que concerne, sobretudo, aos primeiros seis anos de escolaridade? Anos muito marcantes na vida de qualquer aluno. Era aqui que cada um devia escolher o seu rumo e, para que isso acontecesse, as escolas deviam estar preparadas para receberem os alunos de acordo com as suas vontades e aptidões. A chamada via profissional devia ser oferecida neste nível etário, mas com as devidas infra-estruturas, tanto humanas como físicas, para que o resultado fosse profícuo. Não é com o tipo de cursos criados ultimamente que se vai a lado algum, pois têm trazido mais instabilidade às escolas com a indisciplina que se tem verificado e a falta de interesse dos alunos. Apesar disso, há cursos, relacionados com as novas oportunidades, que estão a funcionar bastante bem e porquê? Porque são pessoas que estão lá voluntariamente, que aproveitam estas iniciativas para complementarem a sua formação.
O que vão fazer os professores do Ensino Secundário com alunos contrariados, sem motivação, indisciplinados no meio daqueles que querem progredir, que desejam estudar, que querem aprender e ingressar, um dia, na Universidade? Façamos uma retrospectiva e vejamos, onde tem havido mais casos de violência escolar? Por que razão isso tem acontecido? Querem alargar isso ao secundário onde existe, para já, alguma tranquilidade? Não acham que os alunos, a partir do sexto ano, deviam ser eles a escolher a via de ensino que mais lhes conviessem em vez de serem enviados para a escola como se fossem uma “mercadoria” para um armazém? A este propósito, António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, um grande especialista em matéria educacional, e que foi convidado pelo Primeiro-Ministro, no dia 28 de Abril, para debater o alargamento da escolaridade obrigatória para doze anos, não teve pejo em fazer perguntas e afirmações incómodas, segundo nos relata Ramiro Marques no seu blogue. Mais adiante, pode ler-se: “apelou aos membros do Governo presentes na sessão para que "actuem" sobre "o essencial", os primeiros seis anos de escolaridade, medida que defendeu ser mais importante do que fixar objectivos nos 12 anos de escolaridade. Depois de apontar deficiências no Ensino Secundário e de contestar a forma como os professores primários têm sido tratados pelos últimos executivos, o reitor da Universidade de Lisboa advogou ainda que alguns países europeus, sem uma escolaridade obrigatória tão longa, apresentam melhores resultados do que Portugal em termos de escolarização.”
O objectivo principal, na minha opinião, não é dar diplomas, mas sim competências. Que interesse há ter alunos com o nono e futuramente com o décimo segundo ano, se não sabem estar em sociedade, sem regras e sem as principais competências na leitura, na escrita e na matemática básica? O mercado de trabalho e a própria sociedade aceitarão melhor um cidadão competente com menos escolaridade do que outro com o diploma de anos mais avançados, mas que não revela aquilo que esse documento devia representar.
Quero citar um excerto que li também, no blogue de Ramiro Marques, sobre a falta de exigência em matérias tão essenciais no sistema inglês e que vem a propósito daquilo que se passa neste meu país, a saber: “O historiador inglês, David Starkey, avisa: é preciso ensinar as crianças a memorizar datas, factos e a desfrutar de lições de gramática e debates. O conhecido historiador denuncia que as escolas estão a produzir analfabetos funcionais incapazes de escrever, ler, comunicar e fazer cálculos. David Starkey fez estas acusações durante uma conferência de directores de escolas privadas. Starkey afirmou que se fosse estudante agora não teria chegado onde chegou porque actualmente o sistema escolar inglês é mais injusto e produz mais desigualdades do que quando ele era jovem.”.
Afinal, temos grandes especialistas a contestarem o actual sistema em Portugal e noutros países, pois defendem maior exigência e, consequentemente, maior autoridade para os professores para que possam levar por diante a sua tarefa. São medidas prioritárias a serem tomadas o mais rápido possível, caso contrário, para onde caminhamos? Estou muito preocupado com o futuro deste meu Portugal.

* Salvador de Sousa - Professor da EBI Monsenhor Elísio de Araújo – Pico de Regalados – Vila Verde

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