Pior do que os nossos maus resultados é a indiferença perante eles. A Sociedade Portuguesa de Matemática clamou na altura por uma mudança urgente. Mas não foi ouvida nem, muito menos, convidada para participar em qualquer processo de revisão profunda. E o mesmo aconteceu com a Associação de Professores de Matemática. O Ministério da Educação, confrontado com os dados do PISA, desvaloriza-os. Dá pena ver o esforço das autoridades nacionais para os menosprezar (chegam a ufanar-se de termos resultados semelhantes a outros países mediterrânicos, como a Itália, a Grécia e a Turquia). Quando não os menosprezam, esforçam-se por desculpabilizar um sistema que se viu a nível internacional tão cruamente retratado.O primeiro lugar da literacia matemática foi ganho por Taiwan (549 pontos) seguido pela Finlândia, Coreia do Sul e Hong Kong. Digno de louvor é o 8º lugar conseguido por Macau (525 pontos), outrora português e hoje chinês. Um amigo meu comentou, sarcástico: Há uma boa maneira de subir no PISA. É entregarmos a administração do território... A China propriamente dita estava fora da amostra, mas os resultados não seriam muito diferentes dos de Taiwan, Hong-Kong e Macau. O que terão os jovens chineses de diferente dos norte-americanos e dos nossos?A resposta tem a ver com a aprendizagem e com o ensino. Kevin Miller, professor de Psicologia na Universidade de Michigan, explicou, numa conferência em Coimbra, a relevância das diferenças culturais e pedagógicas, que ele próprio tem investigado. Afirmou: Nos EUA aceita-se que não perceber nada de Matemática é uma espécie de ‘medalha’. O mesmo não acontece na China, onde os alunos têm interesse pela aprendizagem, pois a cultura, a escola e os professores estimulam esse interesse (...) Numa cultura como a americana os alunos tendem a esconder as suas dificuldades e, sempre que podem, fazem escolhas que contemplam níveis menos exigentes de matemática, ou de onde ela está mesmo afastada. E acrescentou: Apesar das diferenças de ensino entre os vários estados e entre escolas, há nos EUA um padrão de ensino assente na exposição do professor e na solicitação aos alunos para repetirem a informação fornecida. Em contrapartida, na China os professores além de proporcionarem uma informação sólida, procuram que os alunos expliquem os procedimentos. Assim, estimulam-nos muito mais a comprender o que vão aprendendo.
A Matemática não é chinês, podemos aprendê-la como na China.
Artigo de Carlos Fiolhais no blog " De Rerum Natura "
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