Confesso que nos últimos anos tenho vindo progressivamente a perder a ilusão de poder fazer algo por este país e hoje acredito que toda a minha geração está quase que de mãos atadas perante a nossa realidade política e social. Poderia pensar que é apenas um reflexo da crise para que, inexoravelmente, temos vindo a caminhar mas temo ser algo bem mais profundo e enraizado na nossa cultura. Só assim se explicam os sucessivos escândalos e casos que todos os dias a classe jornalística traz a público, umas vezes por mérito próprio, outras nem tanto. A mais recente refere-se à região autónoma da Madeira, a mesma cuja bandeira ostenta a gloriosa cruz da Ordem de Cristo mas que em pouco honra os seus descobridores. O decreto, conhecido como lei do jackpot, fez aumentar as verbas dos partidos políticos representados no parlamento da Madeira, apesar da redução de 68 para 47 deputados, devido à alteração da base de cálculo que passou a ser o indexante de apoios sociais e não o salário mínimo. Assim, cada deputado madeirense passou a valer 108 mil euros por ano, o que em muito favorece o partido mais representado no parlamento, o PSD, o mesmo que fez aprovar o diploma. Como forma de protesto e certamente para ir buscar alguns votos, o PND resolveu usar parte dos 108 mil euros a que teve direito por ter um deputado eleito no parlamento, entregando 30 euros, salvo erro, a cada um dos primeiros 250 idosos a aparecer na sua sede. Obviamente que os idosos não se fizeram rogados e lá apareceram em grande número para receber a prenda de natal ainda que alguns não soubessem bem de onde vinha. Sendo este um pequeno mas típico exemplo dos muitos esquemas arquitectados pelos políticos portugueses, devemos já estar em condições de rivalizar ou mesmo ultrapassar os italianos. Como dizia Giordano Bruno, um filósofo italiano, "que ingenuidade pedir aos que têm poder para que mudem o poder" e de facto tenho vindo a tomar real consciência das suas palavras.Assim, não se vislumbram grandes perspectivas de futuro aos desalinhados com o sistema vigente. Por vezes interrogo-me em que altura da nossa vida democrática terá começado o apodrecimento da classe política. Acredito que, até ao final da década de 80, os políticos ainda teriam ideais a orientar as suas vidas mas na década de 90 o mesmo já não aconteceria dado que todos conhecemos os nomes dos governantes de então que hoje estão envolvidos em escândalos económicos. Além disso, a entrada de Portugal na União Europeia, então CEE, em 1986, trouxe até nós rios de dinheiro que alimentaram a ganância de muitos e aprouveram a poucos. O desperdício de todos esses fundos, que deveriam ter sido investidos principalmente em educação como fez a Irlanda, condenou-nos à cauda da Europa. Já não bastava sermos um país pequeno como tínhamos também que ser pouco inteligentes. Basta olhar para a nossa história para constatar que o auge do nosso império, no século XVI, se baseou no conhecimento. Para tal, séculos antes Portugal soubera acolher e proteger os cavaleiros perseguidos da Ordem dos Templários por toda a Europa. Assim se formou a Ordem de Cristo, herdeira dos Templários, que tinha sido extinta pelo Papa. Dom Dinis teve a perspicácia de o fazer e não obedeceu ao Papa que reinvidicava para a igreja católica todos os bens da riquíssima Ordem dos Templários em Portugal. Contornou a questão argumentando que os templários eram apenas usufrutuários de bens da coroa portuguesa e que por isso a igreja não tinha direito aos mesmos. Assim se instalou em Portugal uma inestimável fonte de conhecimento que, aliada à aposta de vários reis na educação, nomeadamente Dom João I cuja descendência ficou conhecida por ínclita geração, viria a tornar-nos no centro do primeiro mundo globalizado da história da humanidade. Ironicamente fomos traídos pela nossa própria ambição. Seria presságio? Dom Manuel I, sentindo-se imparável, quis tornar-se rei de toda a península ibérica e para isso precisava de agradar aos reis católicos de Espanha para vir a casar com a sua filha herdeira do trono, Isabel de Aragão. A condição era a expulsão dos judeus de Portugal, os mesmos que cá se tinham fixado a partir dos Templários, mas Dom Manuel I quis contornar essa exigência convertendo à força esses mesmos judeus, ficando depois conhecidos por cristãos-novos. Anos mais tarde, o estabelecimento da Inquisição eliminou definitivamente os judeus que restavam e terá sido essa a primeira das razões do declínio do império. Isto tudo para dizer que nem só as infra-estruturas e as obras públicas contribuem para o desenvolvimento de uma nação. No presente como no passado, a educação é fundamental e por isso pessoalmente penso que perdemos uma oportunidade única para investir no conhecimento.Quanto ao futuro, volto a manifestar o meu pessimismo porque enquanto não se mudarem as mentalidades, não há reformas que resultem e não há economia que resista.
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