Thursday, July 10, 2008

Estado da Nação

"Apesar do progresso, do acesso à Educação e à Saúde, das infra-estruturas construídas e da melhoria das condições de vida da população, o país encontra-se à beira do precipício. Os sacrifícios, pedidos por todos os Governos, desaguam inevitavelmente em mais sacrifícios: continuamos a divergir da Europa, com um crescimento económico que, mesmo antes da crise internacional ser decretada pelo Governo, não chegava a 1,5 por cento do PIB. Com uma agricultura destruída, uma indústria incipiente e uma classe empresarial que não se distingue pela sua capacidade empreendedora, Portugal vive hoje a ressaca de todos esses amanhãs que cantavam ao som do consumo desbragado e dos vários "choques" que nos iriam abrir as portas do desenvolvimento. O rosário ou a "lengalenga" estende-se a quase todos os domínios: à Saúde, à Justiça ou à Educação, essa grande aposta da democracia, que nos atira para a cauda da Europa, com uma taxa elevadíssima de abandono escolar (perto de vinte por cento) e com um défice de formação que se reflecte na competitividade das empresas e dos produtos nacionais. Paralelamente, o país "descobriu" agora os valores assustadores da pobreza (perto de 20 por cento da população) que já existiam muito antes de serem "descobertos": infelizmente, a pobreza é um fenómeno persistente em Portugal, com tendência a agravar-se, nos próximos tempos, graças à subida do petróleo e ao aumento dos bens alimentares. Em matéria de desigualdade somos um país recordista, com um fosso cada vez mais profundo entre os mais ricos e os mais pobres. O envelhecimento da população, que caracteriza as sociedades ocidentais, atinge em Portugal níveis assustadores. De acordo com dados do Eurostat, em 2050, as pessoas com mais de 65 anos representarão mais de trinta por cento da população portuguesa. Não se vê como é que poderá haver capacidade orçamental que suporte este aumento assustador das necessidades. Mas, aparentemente, há quem veja.
Embora o estudo apresentado por Rui Ramos e pelo Compromisso Portugal não seja propriamente pródigo em propostas ou soluções. E, na ausência destas, talvez seja preferível a "lengalenga" dos epígonos de Oliveira Martins à hipotética apresentação de alternativas que ninguém consegue detectar.»
Constança Cunha e Sá, in Público

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