Pelo relevo que tem para a (des)consideração internacional do nosso país e, principalmente, pelo diagnóstico frio sobre o beco da direcção económica de Portugal, transcrevo na íntegra o artigo do Financial Times de 31-8-2008 (primeiro feed em Portugal no Blasfémias?) "Porcos no chiqueiro":
Défice da balança de transacções correntes em percentagem do PIB - 2000-2007"
Países excitantes obtém acrónimos excitantes, pelo menos nos círculos financeiros. O Brasil, a Rússia, a Índia e a China, por exemplo, países em crescimento rápido, são chamados BRICS [tijolos], as próprias iniciais indicando um crescimento sólido. Outros países têm menos sorte. Vejam por exemplo, Portugal, Itália, Grécia e Espanha [Espanha], às vezes chamados PIGS [Porcos]. É uma alcunha pejorativa mas com muita verdade.Há oito anos, os Pigs [Porcos] voavam mesmo. As suas economias levantaram voo depois de aderir à Zona Euro. As taxas de juro caíam para mínimos históricos – e eram, com frequência, negativas em termos reais. Tal como o dia sucede à noite, seguiu-se uma explosão do crédito. Os salários subiram, os níveis de dívida incharam, tal como os preços das casas e o consumo. Agora os Pigs [Porcos] caíram no chão.Pelos números do comércio se pode ver até onde podem cair. Enquanto a Zona Euro, de modo geral, está em equilíbrio, no final de 2007 a Espanha e Portugal tinham défices da balança de transacções correntes equivalentes a 10% do PIB. Nessa altura, a Grécia tinha uns colossais 14%, enquanto o défice italiano de 3% era relativamente respeitável.A resposta usual a um escancarado défice da balança de transacções correntes é uma forte desvalorização. Mas os Pigs [Porcos] são membros do euro, portanto essa estrada está fechada.A alternativa seguinte é simplesmente continuar e financiar o défice de alguma forma. Mas isso é cada vez mais difícil de realizar nestes tempos de censura do crédito. Na verdade, a Espanha pode ter um problema particular. No passado, os seus bancos – especialmente as suas cajas [caixas] não cotadas – utilizaram títulos garantidos por activos (ABS), de baixa qualidade, para conseguir dinheiro barato do Banco Central Europeu. Mas o Banco Central Europeu tenciona apertar as suas regras de empréstimo.Resta, por isso, uma última e muito dolorosa solução. A competitividade pode ser restaurada pela baixa dos salários reais. Por outras palavras, uma depressão profunda. O sinal mais dramático disto pode ser visto em Espanha, onde o desemprego cresceu cerca de um ponto percentual no segundo trimestre [em Portugal não cresce porque o Governo coloca formalmente em formação profissional, cerca de 100 mil desempregados, como revelou o semanário Sol e como se fosse financeiramente e humanamente possível estarem constantemente em formação profissional cerca de cem mil pessoas!...]A Grã-Bretanha, enfrentando problemas semelhantes nos primórdios dos anos 1990 quando foi acorrentada ao Mecanismo de Taxas de Câmbio comunitário (ERM), retirou a libra do ERM e a desvalorização salvou-lhes a pele. Há quem se pergunte se os Pigs [Porcos], enquanto parte do Euro, não se arriscam a tornar-se bacon."
À parte o acrónimo mal-intencionado (que o Manuel do Sexo dos Anjos tamém denuncia) e sem fleuma - que parece ter sido cunhado no Economist de 5-6-2008 - ressalta do artigo do Financial Times que o único caminho viável no curto-prazo para a crise económica profunda do nosso País, ainda que disfarçada pela maquilhagem dos números do desemprego, crescimento económico e manipulação de exportações, é a redução dos salários. A economia compensa o desvario político, aproveitando o excesso de oferta de trabalho com salários mais curtos.Essa redução salarial não chega aos trabalhadores do quadro e alguns funcionários a contrato, mas atinge os trabalhadores de empresas entretanto falidas e encerradas e os que são despedidos, os auto-empregados e os recém-empregados que auferem salários reduzidos e piores condições. É esta situação que está a acontecer em Portugal, como se vê nos empregos de 500 euros que as grandes empresas oferecem a licenciados por oito horas de trabalho.O Estado Social segregacionista dos direitos adquiridos cria, no seu estertor, dois hemisférios laborais: o de cima (empregados do quadro, mais velhos, ou com reformas douradas) e o de baixo (trabalho precário, mais jovens ou pobres). Essa divisão política pelo equador do Estado Social é insustentável: se não houver integração social cria-se um conflito geracional gravíssimo entre a geração do quadro e a geração precária.O chiqueiro não é o País, nem porcos os portugueses. Porcaria é o Estado Social que nos enfiou na pocilga. Acorde quem adormeceu nas cantigas governamentais de recuperação, quando ainda não chegámos ao fundo do vale de lágrimas. A situação actual do País é grave demais para sustentar este regime (des)representativo anti-democrático. A democracia directa não deve tardar.
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